terça-feira, 8 de outubro de 2013

No Bayern, Mundial ainda é assunto proibido: 'Não dão mesmo valor aqui'

Dante e Rafinha buscam passar mesma empolgação para europeus, mas reconhecem barreira: 'Como é competição de dois jogos, já olham diferente'

Não se trata de uma desculpa esfarrapada, daquelas de maus perdedores - afinal, o jogo sequer foi jogado. Mas, sim, de um fato: o Mundial de Clubes, por enquanto, é assunto proibido no Bayern de Munique. A pouca empolgação por parte dos alemães pode ser explicada pelo calendário atribulado que espera o atual campeão europeu até o embarque para Marrocos, em dezembro, onde deverá definir o título contra o Atlético-MG se não surgir um novo Mazembe no caminho dos favoritos.
Este é o melhor indicativo para o que alguns podem chamar até de descaso. Enquanto os brasileiros sonham com a partida desde que o chute de Giménez encontrou o travessão de Victor, na inesquecível decisão da última Taça Libertadores, os bávaros preferem ainda não pensar no que pode acontecer em Marrakech.
Pizarro, Dante e Rafinha Bayern Liga dos Campeões (Foto: Getty Images)Pizarro, Dante e Rafinha com a taça da Champions: sul-americanos tentam mostrar valor do Mundial (Getty)
Há motivos práticos. Com a chegada de Pep Guardiola, o Bayern se viu na missão de reconquistar os títulos da fantástica temporada 2012/2013 sob o comando de Jupp Heynckes. De duas competições disputadas até o momento, saiu um título: a Supercopa Europeia, contra o Chelsea, festejada com notória vibração.
Esta seria, em tese, a cereja do bolo para os europeus, que terão de deixar o continente durante a temporada regular para disputarem um torneio de tiro curto - a mudança do Japão para o Marrocos, no norte da África, é um ponto benéfico neste caso. Mas antes do Mundial há todo o primeiro turno do Campeonato Alemão e a fase de grupos da Liga dos Campeões, além de rodadas da Copa da Alemanha. Não é pouco.
- A cada três dias temos um jogo de alto nível, muito importante. E se a gente perde na Bundesliga, por exemplo, se complica todo, vem uma enorme pressão. O mais importante é manter a calma, pensar em curto prazo. E não no que vai acontecer daqui a dois, três meses. O mais importante é não perder o foco - disse o zagueiro Dante.

Como bom brasileiro, Dante sabe o peso de um Mundial de Clubes. Mas reconhece que precisará de algum esforço para prová-lo aos seus companheiros de Bayern.
- Uma coisa é certa: nós sul-americanos damos muito mais valor do que eles. Só que agora tendo eu, Rafinha, Thiago Alcântara, o Pizarro e outros jogadores, podemos realmente conversar e passar essa mensagem. O próprio Guardiola já ganhou duas vezes com o Barcelona. Eles são superprofissionais e, independentemente do valor do troféu, sei que vão dar tudo para ganhar.
Barcelona Mundial de Clubes 2011 Santos (Foto: Getty Images)Guardiola ganhou o Mundial de Clubes duas vezes: a última com o Barcelona em 2011 (Foto: Getty Images)
Rafinha: 'Olham o Mundial de um jeito diferente'
O lateral-direito Rafinha compartilha de opinião semelhante.
- Falta muito tempo ainda, tem competições importantes pela frente. Uma fase de grupos da Champions, o Alemão e a Copa da Alemanha que já começaram. Claro que o Mundial é importante para nós, mas está longe. E por isso é proibido de falar por aqui. Temos que nos focar no agora. Sei que para nós é um título enorme. Mas esse é o problema dos europeus. Como é uma competição de dois jogos, já olham de um jeito diferente. Comigo, não. Por isso estou ansioso, às vezes me pego pensando.
Na foto do título, não trouxeram a taça. Eu me recusei a fazer a foto até que o troféu aparecesse ali. Fomos lá para o Japão, vencemos um jogo difícil e não vai ter taça?"
Élber lembra decisão contra o Boca em 2001
Dante e Rafinha transmitem a sensação interna do elenco, mas o próprio turista já sente que uma Liga dos Campeões é mesmo o auge para os bávaros. No museu interativo do clube, localizado dentro da Allianz Arena, há menções "honrosas" aos títulos intercontinentais. Uma pequena seção lembra o confronto contra o Boca Juniors, em 2001, no Japão; outra, recorda os duelos diante do Cruzeiro, em 1976 - na época feitos em ida e volta.
- Quando fomos jogar contra o Boca, não havia um jornalista alemão. Tinha brasileiro, um punhado de sul-americanos, mas alemão nenhum. Ganhamos e dois dias depois já tivemos partida na Alemanha. Na foto do título, não trouxeram a taça. Eu me recusei a fazer a foto até que o troféu aparecesse ali. Fomos lá para o Japão, vencemos um jogo difícil e não vai ter taça? Isso mostra que realmente não dão muito valor, a torcida também. Fica marcado no currículo, mas não é o mesmo que acontece com nós brasileiros - lembrou Élber, ídolo e ex-jogador do Bayern entre 1997 e 2003.

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